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quarta-feira, 15 de junho de 2011

O melindre

Edvard Munch - O Grito
Estava lendo um livro e me chamou a atenção quando o autor descreve que “os melindres são pequenos sintomas da esquizofrenia”. Puxa! A esquizofrenia é uma doença tão terrível! Conheço várias pessoas com este mal. E como realmente ela se instala? É genética? É adquirida? Passei então a prestar mais atenção em quais os momentos o melindre se manifestava em mim. Confesso que fiquei preocupada e com muita vergonha, porque descobri que ele faz parte de mim. Então comecei a analisá-lo no outro, até mesmo porque eu precisava saber quais eram as minhas reações. Dizem que o outro é o nosso melhor espelho e que o que nos incomoda do outro, é porque nos pertence também. Eu precisava saber se o melindre manifestava-se apenas quando o outro o ativasse, ou eu mesma poderia acioná-lo. O que o outro precisava fazer para ativar este mal em mim? Em que grau está o meu melindre? O que eu precisava fazer para me controlar? E cheguei a conclusão que ele é uma mistura de muitos outros sentimentos, e que na maior parte acontece quando há o excesso de orgulho, de vaidade e de prepotência.
 

Orgulho quando achamos que somos perfeitos, e que não podemos errar. Vaidosos quando achamos que somos intelectualmente ou espiritualmente melhores que o outro e prepotentes quando achamos que o outro não tem mais jeito e que somos diferentes, mais capacitados e muitas vezes até melhores. Todos estes sentimentos nos torna suscetíveis e que contrariados passam a instigar o melindre o qual pode ter graus: superficial que perturbará a nós mesmos, ou mais grave, quando parte-se para a agressão verbal ou até mesmo física. Melindrados perdemos o controle, seremos visto pelo outro como um doente e que precisa de ajuda. Como somos capazes de nos desequilibrar porque o outro não concorda com o que pensamos ou agimos? Como podemos acreditar que uma vez conscientes não erraremos mais e que por possuir um pouco mais de consciência nos tornaremos melhores que os outros?
Muitas vezes não percebemos que esses sentimentos contribuem para uma plantação enorme de mágoas e distúrbios desnecessários dentro de nós mesmos e com certeza dentro do outro que como nós, está sempre aberto para receber e estimular causando o efeito dominó. Quando conscientes dos malefícios, e desconfortos que os melindres trás a nós mesmos, somos impulsionados a melhorarmos e até procurar ajuda. A busca interior nos alerta a procurar as soluções primeiro em nós mesmos e depois a ajuda para evitar que tornemos co-autores dos melindres e de outros sentimentos negativos causados no outro. 

Dja Cavalcanti

Melindre, s.m. Delicadeza no trato; recato; suscetibilidade. Melindrar, v.t. Tornar melindroso; ofender o melindre de; magoar; ofender; p. ofender-se, magoar-se. Melindrice, s.f. ou Melindrismo, s.m. Qualidade de quem facilmente se melindra. Melindroso, adj. Que tem melindre; muito delicado; perigoso; suscetível; arriscado.   
Fonte: Dicionário Silveira Bueno.

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